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O L H O
V I V O
Sergio Paulo Terranova
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Revista Isto É n°1639
Abaixo da cinturaNo começo da tarde da segunda-feira 19, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) entrou pela garagem do prédio da Procuradoria da República no Distrito Federal com o propósito de trocar munição com o Ministério Público. Estava atrás de documentos e de uma gravação que comprometeriam o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), e decidido a dar uma punhalada no presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem culpa por sua humilhante derrota na guerra pelo comando do Congresso.
Antônio Carlos Magalhães faz discurso no Senado com ataques a ministros, finge que preserva Fernando Henrique Cardoso, mas vai ao Ministério Público dar dicas de como "pegar" Eduardo Jorge e envolver o presidente nas denúncias de corrupção.
Andrei Meireles e Mino Pedrosa
Depois de ter desempenhado papel decisivo para impedir que as denúncias contra o ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira fossem apuradas, ACM reabriu o caso EJ. “Os dados que vocês receberam do Eduardo Jorge estão incompletos. O que pega Eduardo Jorge são os sigilos bancários de 94 e 98. Se pegar o Eduardo Jorge, chega ao presidente”, assegurou, para surpresa dos procuradores. Na realidade, ACM estava fazendo seu habitual jogo duplo: pelas costas, engrossou a voz e atiçou o Ministério Público contra o presidente, enquanto no discurso que pronunciou no dia seguinte no Senado afinou, numa tentativa de manter intacto seu naco de poder no governo federal. Mais um tiro no pé. “Isso é coisa de chantagista”, desabafou Fernando Henrique, ao ser informado dessa nova traquinagem de Antônio Carlos. A interlocutores, prometeu, mais uma vez, demitir os ministros das Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, e da Previdência, Waldeck Ornelas.
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A metralhadora de Antônio Carlos
Eduardo Jorge Caldas Pereira
(ex-secretário-geral da Presidência)
“Os dados que vocês receberam do Eduardo Jorge estão incompletos. O que pega Eduardo Jorge são os sigilos bancários de 94 e 98. Se pegar o Eduardo Jorge, chega ao presidente”
Grampos
“Na gravação de corrupção dos deputados está na cara que as vozes são deles. O grampo tem valor. Não tem nada mais digno de credibilidade do que uma voz. Enquanto ministro, nunca mandei fazer esse tipo de investigação. O SNI botava militares como operários, vestidos de macacão, dentro da telefônica para fazer a escuta”
Jader Barbalho (presidente do Senado Federal)
“Um empresário de Mato Grosso me procurou, chorou em minha casa. Ele pagava a Jader. Tinha de dar a entrada do dinheiro no Basa (Banco da Amazônia). O cara do Ministério Público estadual fez sumir os cheques que incriminavam o Jader. O banco, que era o Itaú, passou tudo para o Banco Central. Mas só me dão se eu entrar com uma ação popular ou uma CPI. Parece que esse processo já até prescreveu. (...) O governo participou da operação para ajudar o Jader, mesmo sabendo desses casos de corrupção no DNER”
Eliseu Padilha (ministro dos Transportes)
“Eu vou provocar, acusar. Eu tenho uma estratégia, vou acusar e ele vai me interpelar. Aí eu vou confirmar que eu chamei ele de Eliseu Quadrilha e que a quadrilha dele é essa mesmo. E vou pedir a exceção da verdade”
Siqueira Campos (governador do Tocantins)
“O Jader está enrolado com o Siqueira no Tocantins. Tudo que tem de irregularidade lá o Jader está junto”
Discurso
“Amanhã vou fazer um discurso calmo, sem xingamentos. Vou listar vários casos.
Mas como tem gente na imprensa, o Villas Boas Correia, que me aconselhou a não
dizer tudo de uma só vez, vou guardar. Agora vem o Carnaval e não vale a pena, vou
deixar para depois do Carnaval”
Comissões
“Eles vão tentar evitar que eu vá para a Comissão de Constituição e Justiça
e a Comissão de Economia. A Comissão de Fiscalização e Controle na prática não
existe. Mas comigo passaria a existir”
Geraldo Brindeiro (Procurador-geral da República)
“ Quem é nomeado sempre quer agradar a quem nomeia. O Brindeiro tem
incomodado vocês?”
Pra vocês verem como são as coisas, esssas frases são do Antônio Carlos Magalhães...Índio cuidado...ainda você recebe um sopro do Cacique Toninho e explode...De boa meu...Te cuidas...
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REVISTA CARTA CAPITAL
GRAMPOS & CABEÇAS
CASOS DE POLÍCIA
A PF de Chelotti trama para acobertar escândalos, intimidar o topo da República e perpetuar-se no poder
POR BOB FERNANDES
"Eu sou o J. Edgar Hoover do Brasil."
Vicente Chelotti, diretor-geral da Polícia Federal.
John Edgar Hoover (1895-1972) é uma lenda norte-americana. Dirigiu o FBI por 48 anos e fez de um cabide de empregos para burocratas uma das mais importantes organizações policiais do mundo. Hoover tornou-se célebre também por criar e manter arquivos implacáveis contra inimigos ou potenciais adversários. Vicente Cherve Chelotti, 47 anos, diretor-geral da Polícia Federal, entre amigos costuma comparar-se a J.E.H. O chefe da Polícia Federal, ao completar o quarto ano no cargo, alinha adversários de extraordinário porte. Não conta com a simpatia do chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso. Tem inimigos na Secretaria de Assuntos Estratégicos, na Procuradoria-Geral da República, no Congresso e no Palácio do Planalto, como se verá ao longo deste relato. CartaCapital, em um ano de apurações, e em conversas com graduadíssimo personagem do setor de informações do governo, chega a um conjunto de 38 fitas grampeadas com conversas de Chelotti - e entre chefões e agentes da Polícia Federal.
FHC E O SIVAM. As fitas grampeadas, ainda que explosivas, são apenas parte desta história. O grampo é motivo e conseqüência. O grampo é, a um só tempo, gerador e espelho da degradação, e da absoluta desproteção a que estão entregues os cidadãos. Sem exceções. Os enredos que antecedem e se completam com a fitalhada grampeada, as conexões e personagens remetem aos porões do Brasil.
Logo no primeiro capítulo desta história - uma crônica de usos e costumes -, a presença do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, grampeado pela Polícia Federal na origem de um escândalo que se tornaria conhecido como Sivam. Do Sivam, e do presidente, se tratará na seqüência. Adiante-se que, por decorrência daquele grampo, Chelotti tornou-se vitalício na direção da Polícia Federal. É dele a frase, repetida inúmeras vezes em reuniões com os mais próximos, entre um e outro gole de vinho. Eventualmente, um uísque:
- Tenho o homem na minha mão, não saio daqui.
BOLSONARO EXPLICA. De outro compartimento, mas também ele um freqüentador dos porões, o militar-deputado Jair Bolsonaro (PPB-RJ), em discurso no Congresso no último 22 de janeiro, escancarou. Com todas as letras, disse o que o submundo, e o Palácio, já ouviram:
- Na questão do Sivam, alguns assinaram um requerimento de CPI, mas foram chamados pelo governo e retiraram a assinatura. Há muita coisa naquela fita. Tanto é verdade que o cabo da guarda, nosso querido Vicente Chelotti, continua intocável até hoje; ninguém mexe com ele, porque ele carrega embaixo do braço fitas com gravações de conversas escusas do senhor Fernando Henrique Cardoso. Por isso é que ele não cai. Cai o coronel, o Estado-Maior, mas o cabo da guarda permanece lá, altivo, ninguém mexe com ele. É o país da corrupção, da sacanagem. Abram um processo contra mim, cassem meu mandato...
Nessa tarde do Congresso, e desde então, fez-se o silêncio dos velhos cemitérios. É também de autoria de Chelotti, como se nota na reprodução de diálogos grampeados, a bravata de quando Íris Rezende se tornava ministro da Justiça: "Eu já conhecia ele como ministro da Agricultura. Ah, dou-lhe três tapas".
ACM INVESTIGADO. Nestes dias, o Hoover verde-amarelo persegue nova, fornida presa. A edição de dezembro da Sindifolha (publicação do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal) traz Chelotti na capa. Em editorial, Fernando Honorato, presidente do sindicato, atira:
- Bastou o diretor-geral da Polícia Federal dizer que, caso necessário, ouviria o presidente da República, Fernando Henrique, sobre o caso das contas nas Ilhas Cayman, para que o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, se manifestasse de forma enérgica, como é do seu feitio, e depreciativa, como é da sua "malvadeza", para com a Polícia Federal...
O editorial dos dias de Natal, com mira assestada em ACM, se conjuga com outras ações. Vicente Chelotti e o núcleo da PF a ele próximo acompanham com extrema atenção um dos 30 inquéritos sobre a quebra do Banco Econômico. Especialmente o inquérito 01314/96 SR/Bahia, em cujo apenso 1 figura uma preciosa relação.
Esta folha - objeto de comemorações no 9º andar da sede da Polícia Federal - traz a lista de acionistas da Allied-Trans World Trade Company, uma empresa financeira nas Ilhas Cayman. Encabeçada, como pessoa física, pelo ex-banqueiro Ângelo Calmon de Sá, a listagem traz em 9º lugar como maior acionista no geral, e em 6º, como pessoa física, Antônio Carlos Peixoto de Magalhães. Com 80.327 ações. Gaúcho de Faxinal do Soturno, o delegado Chelotti parece gostar de batalhas de porte descomunal. Não por acaso, vez por outra, está ele a repetir:
- Aqui é macho, macho.
FORÇA SINDICAL. Descendente de colonos italianos, em fevereiro de 1995 Chelotti chegava ao topo de uma carreira iniciada como agente em 1972. Foi, nesses anos, presidente da Associação Nacional dos Servidores do DPF, presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, vice-presidente da Confederação Nacional dos Delegados e vice-presidente do Conselho dos Chefes da Polícia Nacional dos países do Mercosul.
O sindicalismo é o instrumento do poder do Hoover tropical. Um sindicalismo de resultados. Como se perceberá na transcrição de diálogos nas próximas oito páginas, Chelotti montou País afora, com a ajuda de porções de associações e sindicatos de servidores, agentes e delegados da PF, uma rede. Em cada Estado, em cada região, agentes e delegados trabalham para a polícia e, ainda mais, para manter Chelotti e seu núcleo no poder.
Também nas fitas estão claras as motivações. Há de tudo. Batalhas, articuladas entre os sindicalistas, por salários retidos a cada plano econômico, brigas por privilégios corporativos, pelo poder. Há, seria inevitável num cenário como esse, conversas sobre comissões a serem pagas, dinheiro a ser dividido, falsificações, interrupção de investigações, ameaças, bravatas. Longuíssima é a lista. Estarrecedoras são algumas das conversas, patéticas são outras. Impublicáveis, por decisão de CartaCapital, extensos trechos.
GOLBERY DO CHELOTTI. Um agente freqüenta boa parte dos diálogos grampeados. Conversa com superintendentes de todo o Brasil, trama com agentes, delegados, sindicalistas, dá ordens, ameaça, deixa claro que detém o poder.
E todos sabem que ele detém o poder. O grampo, feito fora da sede da PF, capta as ligações para seu celular ou seu telefone no gabinete do 9º andar, anexo ao gabinete de Chelotti, o ninho do poder. O agente é Celso Lemos, o Cabeça, ou o Golbery do Chelotti , como é conhecido.
Celso, oficialmente, está afastado do trabalho. Mas despacha na mesma sala, o tempo todo. Como ele, Jairo Helvécio Kullmann (superintendente da PF no Rio), o ex-chefe de gabinete Lasserre Kratzel Filho e Mauro Spósito, superintendente em Manaus. Todos, investigados pelo Ministério Público por suposta malversação de verbas de um convênio entre o DPF e o INSS.
GRAMPO NO BNDES DÁ SAMBA. Quem rastreou os telefonemas de Celso Lemos sabia aonde pretendia chegar. Ao coração do poder de Chelotti. Quem grampeou os telefones da Polícia Federal, talvez sem querer, foi muito mais longe. Chegou, como fica claro nos diálogos, às vísceras do Poder, o verdadeiro Poder, no Brasil. O grampo, imoral, ilegal, até mesmo por isso mostra como funciona o País.
Grampos no BNDES. Coisa de escassos meses atrás. O governo, a polícia, oficialmente, investigam. Vejamos o que tramam o Golbery de Chelotti e o superintendente da PF no Rio, Jairo Kullmann:
- Celso. Nós temos também que administrar uma coisinha aqui no Rio. Aquele IPL (inquérito policial) dos grampos do BNDES, aquilo não pode ser colocado aleatoriamente aqui não, hein?
- Já tá instaurado aí?
- Não, não. Deve vir daí, mandado.
- Hã, tá, tá, tá.
- Porque o negócio (os grampos) foi aqui na Telerj e não pode cair numa Delecoi (Delegacia de Combate ao Crime Organizado, da PF) nossa, porque esse pessoal aí, amigo, é sem controle...
- Não, não, acho que ele vai mandar o Lorens (chefe do Centro de Dados Operacionais).
- Tá bom, tá bom. Se o Chelotti tem o controle do cara, tá bo
- Tem absoluto controle.
- Porque isso aí a gente conversa segunda-feira, isso aí dá samba.
- Dá um bom samba?
- Muito samba.
SILÊNCIO SOBRE SERJÃO. Outro samba pode ser encontrado na apuração de uma suposta e milionária conta bancária nas Ilhas Cayman. Conta que, segundo denúncias de outubro último vazadas no circuito do malufismo e dos colloridos, pertenceria ao presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, ao governador de São Paulo, Mário Covas, ao ministro da Saúde, José Serra, e ao falecido ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta.
Paulo de Tarso, jovem delegado, foi designado por Chelotti para apurar a versão de uma fantasiosa conta conjunta. O mesmo Paulo de Tarso, em conversa com colegas, mostrou-se surpreso e, diga-se, surpreendeu-os com seu relato:
- O Chelotti foi às Ilhas Cayman; a Interpol já tinha ido, e eu só soube pelos jornais, mesmo presidindo o inquérito. (O presidente do inquérito deveria, obrigatoriamente, ser informado, mesmo que esta tenha sido uma decisão do diretor-geral da Polícia Federal). A surpresa dos colegas de Tarso aumentaria:
- O Chelotti me disse que, lá nas Cayman, perguntou sobre a conta. Perguntou sobre o presidente Fernando Henrique e disseram que não tinha nada no nome dele. O mesmo com o Covas e o Serra. E disse que quando perguntou sobre o Sérgio Motta, o cara fez silêncio, disse que não poderia informar mais nada.
DEFINE-SE A ESTRATÉGIA. O diretor-geral da PF, ao retornar ao Brasil no início de dezembro, foi ao Palácio do Planalto comunicar ao presidente da República o resultado das andanças que surpreenderam o presidente do inquérito das Ilhas Cayman. Numa conversa, grampeada, com o delegado Jairo Kullmann, Celso Lemos, o Golbery, fala sobre A Estratégia e lança luzes sobre o por que e os resultados das peregrinações do chefe:
- Por falar em Chelotti, ele foi meio infeliz ontem, hein Celso? (Havia dito que o presidente FHC poderia ser chamado a depor sobre o caso das Ilhas Cayman).
- Rapaz, foi meio infeliz mas acabou dando certo...
- É, foi, mas ele não tinha que se dirigir ao cidadão, àquele, não tinha que falar no cidadão...
- É, de jeito nenhum, mas acabou dando certo, por incrível que pareça. A cotação dele hoje tá alta pra cacete. Esse cara é foda, é um cagão. (Risos de Celso). Hoje eu dei uma estratégia a ele, mas ele não tava querendo assimilar a minha estratégia...
- Certo...
- Mas, quando eu tô conversando com ele, cai um telefonema do Jobim, sabe? Recomendando a ele a mesma estratégia, e aí ele assimilou, né? Assimilou e tá pra lá agora, tá pro Planalto numa conversa. Já fez um contato comigo e tá todo feliz. Funcionou, a coisa tá a mil por hora...
PANCADAS NO PROCURADOR. Pois é. O samba está a mil por hora. Outras estratégias foram necessárias. Em 1998, pouco antes das eleições, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, trombou com Chelotti e a cúpula da PF. O embate terminaria com uma Medida Provisória que afasta do serviço policiais que estejam sendo processados. Ao telefone, Celso Lemos opera:
- Alô, Celso. Aqui é o Chico, do sindicato de Santa Catarina. Liguei para a Federação, o sindicato daqui vai cobrar para que se saia em defesa de vocês.
- A questão tá sofrendo um gerenciamento. A estratégia é esvaziar a crise pública, ou seja, na imprensa. Esvaziamento apenas temporário para que, em seguida, a gente possa dar as respectivas porradas de volta. Nessa perspectiva, o próprio Palácio do Planalto hoje já andou botando pano quente em tudo. Puxando efetivamente a orelha do seu Brindeiro, tá? Ele já tomou um puxão de orelhas hoje de manhã, a imprensa não sabe disso, mas a gente sabe. Com a puxada de orelha ele já vem se rendendo. Agora as nossas instituições de caráter privado, nossas associações, sindicatos, ficam à vontade para, com inteligência, irem dando uma porrada a cada semana. (...) Tenho gostado da linha do Leite. O tom do Leite é muito inteligente. Ele tem perguntado à imprensa: "E o Ministério Público, quem fiscaliza? Quem faxina o Ministério Público?"
Os procuradores da República e o Ministério Público não perdem por esperar. Celso passa a estratégia de Chelotti e seu grupo:
- Depois, através do próprio Ministério Público, é representar contra a imprensa, contra o próprio Ministério Público (risos) que vazou segredo de Justiça...
O Chico, do sindicato de Santa Catarina, explicita o jogo:
- E o que é que a Federação poderia fazer? (...) A gente tá junto. Eu vou cobrar da Federação pra gente correr junto.
HORA DE ENQUADRAR. Num crescendo, a criatura - ou seria o Criador? - parece querer ocupar o lugar do Criador - ou seria a criatura? Celso Lemos, o Golbery, cai no grampo mais uma vez e conta como enquadrou o diretor-geral da Polícia Federal.
- Alô, Celso? Aqui é o Daniel, do COT (Comando de Operações Táticas). Vi uma matéria no Bóris Casoy e eu tô preocupado.
- Tudo bem, hoje nós fizemos um acordo para terminar a crise e tá tudo bem conduzido. Depende só do comportamento do seu amiguinho (Chelotti), o poderoso
- Certo.
- Que ontem eu já botei nos trilhos. Botei nos trilhos bem botado, sabe? Ele tá viajando hoje, mas amanhã vai se reunir comigo de novo. Tô dando as cartas aqui agora, do ponto de vista da diretriz, do gerenciamento da crise...
(...)
- Tô acreditando que aí tem muita represália (do Ministério Público).
- Tem, Daniel, por causa do Sivam, da pasta rosa, esse conjunto todo é importante. É uma refrega com o Ministério Público, isso acentua a crise...
Com ou sem crise, as ligações de federações e sindicatos dos policiais federais seguem para o celular, ou para a mesa, de Celso. O Golbery opera. Em meio a um dos solavancos, abre o jogo. Do outro lado do grampo está Venerando, ex-presidente da Federação. Celso Lemos já tomou conta do barraco, em meio a mais uma crise:
- Celso, na sua avaliação, o Chelotti tem sobrevida? Longa?
- Longa, não. Curta. Até porque, se ele não se comportar direito, quem vai tirar a sobrevida dele somos nós, certo?
- Sim.
O PRESIDENTE ASSOMBRADO. No conjunto de 38 fitas grampeadas, multiplicam-se
ainda diálogos que mostram, em escalões variados, venda de informações, evidenciam esquemas de corrupção, de falsificações, de chantagem contra poderosos e nem tanto. Seriam necessárias dezenas e dezenas de páginas para de tudo tratar. Os leitores, por certo, não teriam tempo, e muito menos vísceras para tanto.
Do que se ouve nas fitas, restam algumas certezas: Vicente Chelotti tem, ou anuncia ter, algo que assombra o Planalto e o presidente. Mais. Na cúpula da polícia do governo se trabalhou para impedir a apuração do recheio das fitas do BNDES. Apura-se, é verdade, quem grampeou. Mas evita-se o conteúdo, como mostram os diálogos nas fitas.
Da mesma forma, a apuração de Chelotti no enredo da suposta conta bancária nas Ilhas Cayman parece ser apenas parte da Estratégia para ganhar nova sobrevida no comando da PF. O Hoover do Brasil anuncia ter "o presidente nas mãos". Espalha também controlar o prontuário de ministros.
O GRAAAANNNDE RENAN. Renan Calheiros é nomeado ministro da Justiça? Celso Lemos, o Golbery de Chelotti, trava um enigmático diálogo. Grampeado, é claro:
- Hoje é dia de posse. Tô circulando pra caramba.
- É mesmo, Celso. É o grande Renan Calheiros.
- Graaaannnde.
- Cê tá bem, hein?
- Muito bem. Macaco dezoito, borboleta treze, vaca vinte e cinco. Viado vinte e quatro. Um, é águia. (sic, equívocos na zoologia).
- Segundo é o marreco. Cobra é nove.
- Exatamente. Jogo feito.
Jogo feito. O Hoover tropical anuncia dar tapas em ministro da Justiça, e ter "o homem na mão". Vai a Cayman, desmonta uma apuração e monta a Estratégia, enquanto o seu Golbery trama desmontar outra apuração, a do conteúdo das fitas do BNDES. Com uma rede de agentes, delegados, associações e sindicatos, ergue um poderoso, e resistente, sistema de poder.
Como contrapartida, o diretor da PF não olha para o que se passa abaixo. Nem acima. Muito menos no gabinete ao lado. Mira agora, de novo, em Cayman, e no outro poderoso, Antônio Carlos Magalhães.
Sabe, no mínimo, de grampos - vide Sivam - mas, chefão da Polícia, deixa-se grampear. Vicente Chelotti, em entrevista, já disse:
- Não nasci para ser diretor da Polícia Federal. Sou cana e tenho orgulho de ser cana.
Palavras do nosso Hoover. O jogo está feito.
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